sábado, 20 de julho de 2013

Ditadura da beleza

E por que esse título? É coerente afirmar isso? Existe realmente e concretamente a ditadura da beleza? 

A ideia de escrever um texto sobre esse tema veio em uma reunião do grupo de estudos União Libertária, do qual faço parte. Não tenho graduação, mestrado e doutorado nesse assunto, mas te convido a refletirmos um pouco e juntos sobre isso.

Primeiramente, ditadura compreende um significado de absoluto poder e autoridade a algo ou alguém. No Brasil, vivemos um regime militar de 1964 a 1985, esse período nos remete a um regime autoritário, onde a ditadura foi plenamente exercida. Quando falamos em ditadura, logo associamos a um governo em que os poderes do Estado se concentram nas mãos de um: o ditador. 

Após 28 anos do fim do regime militar no Brasil, vivemos uma democracia, onde podemos escolher nossos representantes e temos a liberdade de expressão. Mas será que não existe ainda nenhum outro ditador camuflado no poder?

Vários são os movimentos feministas que ocorreram pelo mundo em diversas épocas em favor da liberdade feminina. Mulheres querem ter direitos equivalentes aos dos homens, querem ser independentes dos homens, querem ''igualdade'' entre homens e mulheres e mais, querem o fim da opressão machista. Se eu for citar todos esses movimentos eu teria que escrever aqui até amanhã de manhã, por esse motivo concentro-me em um que julgo importante para iniciar a reflexão proposta:

E a beleza? Pode essa ser uma ditadura? 

Em 1968, o movimento feminista estadunidense ocorreu como símbolo do fim da repressão masculina. As operárias de uma fábrica de tecidos expondo os seios queimaram seus sutiãs em praça pública protestando contra um concurso de beleza Miss America, pois o consideravam puro machismo. 

Por esse acontecimento, caro leitor, percebemos que a luta por liberdade feminina teve um grande impulso devido a um concurso de beleza. E que relação teria esse movimento com uma possível ditadura?

Concursos de beleza têm sido primordiais na sociedade mundial nos últimos tempos para afirmar um padrão estético e físico para mulheres, assim como também para homens.


A brasileira Gabriela Markus, 5º  lugar no Miss Universo 2012


A reportagem desse domingo passado, 14/07/2013, exibido no Fantástico (Globo), sobre o padrão de beleza da mulher brasileira, tinha o intuito de questionar se as medidas da ganhadora do Miss Universo de 1963, a brasileira Ieda Maria Vargas, serviria para as passarelas atualmente.

Ieda foi consagrada Miss Porto Alegre, Miss Rio Grande do Sul, Miss Brasil e Miss Universo, portanto há 50 anos a gaúcha era o padrão máximo de beleza para uma mulher, como dito pela narração do programa. As medidas da Miss Universo 1963 eram 90 cm de busto, 60 cm de cintura, 90 cm de quadril, critério que permanece o mesmo até hoje, no entanto, uma medida mudou, a altura da brasileira era 1,68 metros de altura, agora a medida ideal para uma modelo de passarela é de 1,80 metros altura. Ou seja, quanto mais magra e maior, melhor.

A Miss, conforme ressaltado nesse trecho narrado na matéria: ''não fez dietas, cirurgias plásticas e nem passou horas na academia para vencer concorrentes de todo o mundo. ''

E ai mulheres? Como fazer se não se tem 1,80 metros de altura, uma barriga sarada, pernas torneadas e busto tamanho 90 cm? E ai homens? Como fazer se não se tem músculos e mais músculos? O jeito encontrado por muitos, para se sentirem dentro desses padrões e aceitos diante dessa opressão, é encarar as cirurgias plásticas, as dietas mirabolantes, os remédios com promessa de emagrecimento em uma semana, horas e horas em academias, tomando ''bomba'' e até mesmo, buscar socorro em doenças como anorexia e bulimia.

Anorexia
E quem tem saído com vantagem nessa história toda são as empresas que trabalham com cirurgias plásticas e com estética, pois cada vez mais o lucro tem sido maior com essa imposição do corpo perfeito, do você é bonito e do você é feio; do você não serve para modelo de beleza.



No Brasil, quando todos já achavam que as magras seriam o padrão a ser seguido, na época de 1990, com o surgimento do axé e em 2000 com o funk, outro padrão surgiu: as dançarinas ''gostosonas'', ''pernudas'', ''coxudas'', ''peitudas'' e ''boas'', são essas as palavras populares.    

Andressa Soares - Mulher Melancia
A matéria do Fantástico, mencionada acima, revelou que o resultado parcial da pesquisa realizada pelo SENAI para saber quais as medidas das mulheres brasileiras, teve como resposta que em geral as brasileiras possuem um busto de 89 cm, uma cintura de 78 cm e um quadril de 94 cm. 

A beleza é um valor que advêm de processos sociais e culturais históricos. À exemplo, na época do Renascimento, as gordinhas eras as preferidas e tidas como padrão de beleza. E sem ir tão longe, relembro que no Brasil, na época da escravidão, quem tinha a pele negra era tido como escravo. E se pensarmos mais um pouco, quem eram os que julgavam os negros como seres inferiores e dignos de uma vida de exploração, humilhação e servidão aos brancos, elite inteligente e poderosa? Sem nem percebermos, entregou-se de bandeja a resposta para essa questão na própria pergunta. Hoje, o gosto dos brasileiros pela bronzeada, os chamados morenos (as) é algo evidente, essa é uma razão para que muitos (as) ficam horas expostos ao sol em busca de uma marquinha de biquíni.

E sobre os cabelos crespos? Quem disse que eles são ruins ou que são feios? Quem disse que é uma necessidade usar nos cabelos algum produto químico para alisamento ou a mais nova invenção humana, carregada de formol, a progressiva, para deixar os cabelos cada vez mais lisos?

Quem foi que falou para as mulheres que elas precisam do silicone para serem gostosas? Quem disse para algum homem que o bonito é mulher com bundão e que as ''sem bundas'' não são ''boas''? Ou quem disse a eles que precisam ter músculos enormes? E assim, serem conhecidos como bombadões?

Desculpe-me os termos pejorativos, mas essa é a verdade. Esses valores são ditados, é uma ditadura da beleza. E quem faz a propaganda desses padrões é a mídia, é a aquela revista que estampa em sua capa aquela musa, adorada e idolatrada pelo tipo de corpo que possui. 

Juliana Paes, ''a mulher mais sexy do mundo.''
A influência é um poder e ela passa despercebida muitas das vezes. Ser influenciado é ser induzido a uma forma de pensamento e conduta sem que se perceba. A influência não é explicita, muito pelo contrário. Por isso te digo, eu e você podemos sim, querendo ou não, ser influenciados por essa ditadura. Nossos gostos, muitas das vezes,podem ser ditados. Podemos ser oprimidos e sofrer com essa opressão.

Impõe-nos o modo de ser e fazer. A ditadura é aceita não só por quem dita, mas por todos que se submetem a ela.

Liberdade cadê você? 

Basta saber então quem é o ditador dessa beleza? Quem tem o poder de ditar? Quem esta por trás de tudo isso? Esse é o primeiro passo para a libertação, para a revolução tão almejada não só nesse tema, mas em várias áreas sociais, culturais e políticas.

Ressalto que os padrões mudam, porém nunca deixaram de existir. Entretanto, pergunto: são mesmo necessários padrões ditados por uma classe dominante? 

Esses padrões só têm servido para afirmar e reafirmar a desigualdade, a dominação de classes e o querido sistema capitalista, interessado só em grana. A ditadura da beleza é uma ideologia.

E o liberdade do indivíduo decidir por si só o que acha bonito, sem ser julgado, criticado, excluído e marginalizado, onde fica? E o poder de ser - ser do jeito que somos sem termos que buscar algum método de mudar apenas para agradar o outro, o ditador - onde foi parar?

É necessária uma DEMOCRATIZAÇÃO DA BELEZA, como também uma democratização da mídia, do poderoso capitalismo... E por ai vai!




''A moda não muda só na roupa, a moda muda no corpo. ''




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